O adeus à Rita Lee, ponta de lança contra um Brasil conservador
Essa semana temos também um papo com a quadrinista Aimée de Jongh, o novo status pop de Marina Sena e um papo sobre a Batalha da Escadaria, patrimônio cultural do Recife
O Grito! Newsletter #2. 09/5/2023
Tudo bem por aí? Então, esta foi a semana em que perdemos um dos mais importantes nomes do rock BR, Rita Lee. A newsletter estava já fechada quando a notícia chegou nesta terça (9) de manhã. Mas foi a tempo para compartilharmos um emocionante texto de Alexandre Figueirôa sobre a importância de Rita não só para a música, mas para a cultura do país.
E foi também uma semana repleta de novidades e material exclusivo em nosso site. Batemos um papo com a jornalista e quadrinista Aimée de Jongh, que desenhou a HQ Sessenta Primaveras no Inverno, obra que mostra a história de uma mulher que abandona marido e filhos para viver uma nova vida aos 60 anos. Jongh é um dos nomes mais relevantes do quadrinho autoral no mundo hoje.
Tem ainda críticas de trabalhos relevantes do pop BR, como o novo disco de Marina Sena, Vício Inerente. E no Recife, a Batalha da Escadaria, uma das mais antigas batalhas de MCs tornou-se Patrimônio Cultural Imaterial. Conversamos com o fundador do encontro, Luiz Carlos Ferrer, conhecido como Duh, sobre o papel do rap na periferia e a relevância da Batalha para a cena independente.
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Rita Lee com a boca no mundo: artista foi ponta de lança contra um mundo conservador
Essa mania de chamar de rainha mulheres que brilham por seu talento é muito cafona. Rita Lee não era “a rainha do rock brasileiro”. Rainhas são filhas bem-comportadas da aristocracia. Rita Lee era justamente o oposto. Era o próprio roque em row, era a ovelha negra da família, rebelde, irreverente, e que nunca deixava por menos quando tinha a chance de soltar farpas certeiras contra a caretice. Alexandre Figueirôa escreveu um texto sobre o legado de Rita Lee para a música e a cultura brasileiras.
Entrevista com Aimée de Jongh: “É muito raro ver mulheres de meia-idade se apaixonarem nos quadrinhos”
No quadrinho Sessenta Primaveras no Inverno, de Ingrid Chabbert e Aimée de Jongh, a dona de casa Josy, de 60 anos, decide abandonar marido, filhos e netos e viver uma nova vida. Ela faz as malas, pega sua Kombi velha e sai pelo mundo contrariando as expectativas da sociedade para uma “velha senhora”. A obra discute um tema bastante atual, que é a emancipação e o empoderamento da mulher após os 60. Um debate que vai além do etarismo e traz questões mais complexas como a própria noção de velhice e a invisibilização dessas histórias na ficção e cultura pop.
Paulo Floro bateu um papo com a jornalista e quadrinista holandesa Aimée de Jongh sobre esse quadrinhos.
“Aos 34 anos, imaginei que seria muito difícil desenhar a história de uma personagem de 60 anos. Mas foi através do lindo roteiro de Ingrid que percebi que não sou tão diferente daquela personagem, a Josy. Estamos lutando com as coisas com as quais toda mulher luta: o que nosso ambiente espera de nós, amor, perda, tédio. Eu queria desenhar Josy de forma realista e, portanto, imaginei-a como se fosse uma boa amiga minha”, disse Aimée.
“O que eu amei de cara no roteiro de Ingrid é que ele é tão dolorosamente realista. Josy toma decisões que na verdade são bastante prejudiciais para o marido e os filhos. Isso faz com que ela não seja o exemplo perfeito que queremos que ela seja. Eu amo que ela é um ser humano complexo que comete erros e faz suas próprias escolhas, enquanto machuca algumas pessoas ao fazê-lo. A vida é assim, infelizmente.”
Aimée de Jongh é um dos nomes mais celebrados dos quadrinhos mundiais e vem sendo publicada com regularidade no Brasil, por três editoras diferentes (Nemo, Pipoca e Nanquim e Conrad). Seus trabalhos quase sempre se baseiam em fatos reais. Um dos seus livros mais conhecidos, Dias de Areia (Nemo), bastante premiado pelo mundo, mostra a história de uma região dos EUA assolada pelas tempestades de areia.
Marina Sena abraça o status de popstar
Vício Inerente, segundo álbum de Marina Sena, chegou às plataformas digitais com a pressão de suceder De Primeira (2021), uma das maiores surpresas da música pop brasileira recente. Márcio Bastos escreveu sobre como a cantora mineira abraçou o status de popstar neste novo trabalho. “Cantora mineira mantém sua identidade artística, ao mesmo tempo em que experimenta novas sonoridades e negocia com as demandas do mercado nos seus próprios termos”.
Batalha da Escadaria, patrimônio cultural
Há 15 anos, é no Centro do Recife, no cruzamento da Rua do Hospício com a Avenida Conde da Boa Vista, que duelos de MC’s representam a criatividade da periferia. É através das rimas que a arte e as vivências das ruas se expressam na Batalha da Escadaria. Em atividade desde 2008, a iniciativa foi reconhecida como Patrimônio Cultural Imaterial do Recife. Matheus Nascimento conversou com o fundador do grupo, Luiz Carlos Ferrer.
Outros destaques desta semana:
O livro A Máquina do Caos explica os bastidores das redes sociais e como elas estimularam ou negligenciaram a disseminação de notícias falsas e conteúdo extremista.
Festival de Cannes começa logo mais. Fizemos uma lista com a lista completa da seleção do ano passado e onde assistir no streaming. Você sabia que Top Gun: Maverick passou lá?
A cobertura do Miss Gay Pernambuco, que escolheu a mais completa drag queen (ou transformista, como preferem ser chamadas) do Estado.
Bebel Gilberto está preparando um novo disco em homenagem ao seu pai, João Gilberto.
Johnny Hooker contou uma história sobre como gravou seu premiado primeiro disco com apenas R$ 15 mil.
O melhor do streaming para ver este mês.
Listão com lançamentos de livros: novo de Bernardo Brayner, Annie Ernaux e muito mais.
O eterno Miró da Muribeca será homenageado no Festival de Inverno de Garanhuns.
Críticas
Discos
billy woods e Kenny Segal convidam para uma viagem caótica no experimental Maps.
Joy Oladokun propõe uma escrita de cura em Proof Of Life.
Danilo Timm celebra a diversidade da vivência queer no disco NiLØ.
Lirinha retorna cósmico e metalinguístico no disco MÊIKE RÁS FÂN.
Tagua Tagua explora o Neo Soul brasileiro no disco Tanto.
Yaeji entre a inovação e a ironia no novo With A Hammer.
Quadrinhos
Náufrago Morris mistura drama de sobrevivência e violência do colonialismo.
Cães de Keum Suk Gendry-Kim: histórias de cachorros desenhadas com o coração.
Parque Chas: a fantasia latina é de outro mundo.
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belo artigo, afetivo e carinhoso. Ela merece!